MÚSICA E RELIGIÃO – UM INSTIGANTE ASPECTO NO ÂMBITO DA HISTÓRIA DA MÚSICA – Parte III

A2O Período Greco-Romano

Como vimos nos dois artigos anteriores (Partes I e II – veja os Links ao final do texto), a linguagem musical foi vagarosamente construída, ao longo dos milenios, paralelamente ao próprio desenvolvimento do Ser Humano. Assim, ao primeiro elemento musical – o ritmo – agregou-se um segundo elemento, de fundamental importância – a melodia. Portanto, ao longo do tempo, e durante toda a pré-História, os diversos grupamentos humanos foram gradativamente desenvolvendo sua linguagem musical, quase que invariavelmente conectando essa forma de expressão à religiosidade. Como vimos, ao falarmos de “religiosidade”, não nos referimos às formas de religião como as que conhecemos nos dias atuais, mas à atitude religiosa, no sentido de tentar explicar as manifestações da Natureza através do misticismo, já que o Ser Humano não dispunha ainda da Ciência para explicar os diversos fenômenos naturais. Porém, para a chamada Civilização Cristã Ocidental, há um ponto crucial, um “divisor de águas”, que determinou os rumos da História, desaguando nos dias atuais – o período Greco-Romano. Do ponto de vista histórico, falamos sempre deste período, associando Grécia e Roma, em decorrência do fato de que ambas as civilizações estão intrinsecamente ligadas, como veremos adiante.

 

CIVILIZAÇÃO GREGA – Artes, Ética e Religiosidade

Não é nosso objetivo, neste artigo, abordar o longo período de desenvolvimento da civilização grega no que tange aos seus aspectos históricos. Já há, a esse respeito, farto material publicado das mais diversas formas. Importa, para nós, ressaltar os aspectos essenciais da cultura grega, e dos quais somos herdeiros diretos. Assim, apar dos períodos iniciais, quando as cidades gregas desempenhavam importante papel (“Pólis”), tais quais Esparta, Atenas, Tróia, desenvolveram os gregos, como sabemos, ao longo dos séculos, importante acervo cultural, nas mais diversas áreas. Há, no entanto, o denominado “período de ouro”, ou “século de ouro” da civilização grega, quando os grandes filósofos e arautos de diversas áreas de conhecimento desempenharam seu papel. Assim, entre os séculos VI e IV a.C., personagens como Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Arquimedes e diversos outros, construíram seus respectivos legados.  Do ponto de vista civilizatório, podemos afirmar que devemos aos gregos os conceitos de cidadania. Os grandes filósofos gregos discutiam, à exaustão, o papel do cidadão, do Estado e da Pólis, visando construir as bases para a convivência humana. Foram os gregos deste período que construíram conceitos básicos de civilização, agregando a estes um aspecto essencial para padronizar e sistematizar a convivência humana – a Ética. E Ética e Arte estão intrinsecamente ligadas.

 

MÚSICA E RELIGIOSIDADE NA GRÉCIA ANTIGA

O sistema tonal grgo é por nós utilizado até os dias atuais. Os gregos desenvolveram sistematicamente o conceito de “melodia”, utilizando os 7 Modos Gregos – escalas diatônicas das quais derivaram o conceito de Tonalidade e Harmonia, séculos depois. As manifestações musicais na Grécia antiga estavam bastante ligadas à religiosidade. Os cultos às entidades A3religiosas nos templos gregos eram, invariavelmente, manifestos utilizando-se a Música como ferramenta. Para os educadores gregos, as Artes deveriam desempenhar papel fundamental na educação e na formação do cidadão, pois agregava ao seu “espírito” a sensibilidade e a inteligência. Nos templos (os “oráculos”), onde as virgens desempenhavam importante papel, a música era utilizada para o culto às “musas” (palavra derivada de “muskas” e que, posteriormente, derivou para “música”).  Em conjunto com a música, também a poesia e a dramaturgia tinham lugar nos anfiteatros gregos. Não havia muito a distinção, na verdade, entre essas diversas manifestações artísticas, segundo diversos historiadores. Os poemas eram recitados ao som de instrumentos musicais, com destaque especial para a Lira (daí a expressão “lírica”). Com o decorrer do tempo, a arte grega desenvolveu-se até atingir independência, em relação à questão religiosa, chegando ao seu apogeu como linguagem independente no período denominado “helenístico”  (em torno do Séc.II a.C.).   E é graças a esse desenvolvimento que surgem as importantes manifestações artísticas gregas – a Comédia e a Tragédia – oferecendo pela primeira vez o conceito de obra artística independente e completa. Cabe ressaltar, também, que as artes plásticas desempenharam importante papel na cultura grega. Conceitualmente, os gregos procuravam retratar a “Perfeição” – o Ideal grego. Buscavam estabelecer os padrões estéticos de beleza e perfeição, para servirem de modelo ao cidadão. Daí os conceitos gregos de perfeição e beleza que seriam, séculos mais tarde, recuperados pelos diversos artistas do Renascimento europeu (século XVI d.C.). É célebre o conceito grego – “mens sana in corpore sano”  (“mente sã em corpo são”).

Um aspecto, porém, relacionado à cultura e às tradições da Grécia Antiga deve ser ressaltado – sua Mitologia. Trata-se de  um aspecto riquíssimo da cultura grega, e que tem estreita ligação com a questão da religiosidade, Isto porque, para os gregos, a questão religiosa estava diretamente ligada ao “Olimpo” – habitat dos deuses gregos. E os “deuses do Olimpo” relacionavam-se diretamente com os homens, com as mulheres humanas tinham filhos (Hércules, por exemplo), e as artes gregas sofriam também, é claro, as influências dessa forma de ver e interpretar a Realidade. Disciplinas como a Psicologia e a Psquiatria atuais encontram na Mitoloigia grega vasto material para a interpretação das manifestações psíquicas da alma humana.

 

ROMA – O IMPÉRIO HERDEIRO

O Império Romano é o herdeiro direto de todas as tradições culturais gregas. Como sabemos, a Grécia dos tempos antigos foi invadida e anexada pelos romanos, e o ano que marca este fato histórico é o de 146 a.C., embora este processo tenha sido gradativo (iniciado em 196 a.C.). Do ponto de vista puramente histórico, há pouco ou quase nenhum material documental disponível que ateste a influência da cultura grega junto aos romanos. Há, porém, os vestígios, já que os romanos expressavam-se, do ponto de vista artístico, utilizando-se exatamente da mesma sistemática usada e desenvolvida pelos gregos no período anterior à anexação. Como sabemos, os romanos eram eminentemente militaristas e materialistas. A eles, pouco interessavam as questões do “espírito”, a não ser da relação como os deuses no destino e desfecho das batalhas. A4Poucos generais romanos aventuravam-se em batalhas sem prestar culto aos seus deuses, seja sacrificando animais e “lendo” suas vísceras, seja oferecendo-lhes sacrifícios humanos, seja de inúmeras outras formas. Por outro lado, os patrícios romanos, em seu cotidiano, cuidavam da educação dos filhos com enfoque especial no mundo militar e no exercício do Poder, em suas mais diversas formas. Consequentemente, a música romana era largamente utilizada nas atividades militares. Havia no entanto, uma relação entre música e religiosidade para os romanos. Herdeiros, como dissemos, da Civilização Grega, os romanos agregaram à sua cultura toda a riqueza desenvolvida pelos gregos. Do ponto de vista da Mitologia, por exemplo, Afrodite (a deusa do Amor dos gregos) foi pelos romanos rebatizada de Vênus… É de se ressaltar que os patrícios romanos – a classe de elite de Roma – chamavam mestres gregos para educarem seus filhos. Daí a intensa influência grega no desenvolvimento cultural romano. Consequentemente, do ponto de vista artístico e, especialmente, musical, Roma repetiu Grécia, se assim podemos afirmar. E, embora os romanos não tenham criado nada de “novo” do ponto de vista artístico (exceção para a Arquitetura e a Engenharia), o Império Romano tem o mérito de haver absorvido e preservado para os séculos posteriores toda a tradição cultural da Grécia antiga. Assim, quanto ao aspecto da religiosidade ligada à arte musical, aspecto este que mais nos interessa para este artigo, podemos afirmar que os cultos religiosos praticados pelos romanos eram praticamente os mesmos expressos na Grécia Antiga. Há, contudo, um ponto marcante e decisivo neste processo: a adoção  da RELIGIÃO CRISTÃ como Religião oficial do Império Romano. Este fato ocorreu no ano de 313 d.C. quando o Imperador Romano Constantino I expediu o decreto, tornando o Cristianismo a religião oficial em todo o Império Romano do Ocidente. Lembramos aqui que, à época, o Império Romano havia sido dividido em 2 partes, com a outra subsede estabelecida em Constantinopla. Este fato, o da adoção da Religião cristã, teve  influência decisiva no que diz respeito à Música religiosa no Império Romano. Isto porque os cristãos, agora livres para realizarem seus cultos, traziam às atividades religiosas diversas canções hebraicas de cunho religioso. Não sem razão, as tradições da religião hebraica estão intrinsecamente ligadas aos cultos religiosos da… Igreja Católica Apostólica Romana. E estes fatos, somados, terão importante influência na arte musical que se praticará nos séculos seguintes na Europa. Isso porque, conforme veremos no próximo artigo (Parte IV), com a derrocada do Império Romano no Séc.V, a Igreja Católica passa a ter papel preponderante em todo o Período Medieval, tornando-se o Poder Central na Europa.

NO PRÓXIMO ARTIGO, ABORDAREMOS O TEMA “MÚSICA E RELIGIÃO” NO  PERÍODO MEDIEVAL. NÃO DEIXE DE LER.

 

PARA LER A PARTE I, CLIQUE AQUI

PARA LER A PARTE II, CLIQUE AQUI

 

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